O grupo viajante (faltam dois...)
No ano lectivo passado, um dos autores estudados na disciplina LUGAR ONDE – Temas de Literatura, História e Património foi Eça de Queiroz. Ficou combinado fazer uma viagem cultural em Outubro, dedicada àquele autor. O professor Joaquim Moedas Duarte idealizou o percurso, a partir da colaboração com a INALVA, empresa com quem a AUTITV tem excelente cooperação. O resultado foi a viagem à Rota Queiroziana, a partir dos romances A Cidade e as Serras e A Ilustre Casa de Ramires.
Figura I Panteão dos Resendes
Dia 25, de manhã, visitámos o espaço onde existiu o Mosteiro de Santa Maria de Cárquere, no concelho de Resende, de que resta a igreja e o panteão dos Resendes. É um lugar referenciado no romance A Ilustre Casa de Ramires, com a designação literária de Craquede. A descrição que lemos no romance não é um guia turístico do que visitámos, é antes uma recriação a partir do que resta do primitivo cenóbio, fundado na transição do século XII para o XIII. Cárquere, classificado como Monumento Nacional, faz parte da Rota do Românico, um conjunto de 58 monumentos situados nas duas margens do baixo Douro, que podemos estudar e visitar virtualmente através do respectivo site. Com o passar dos séculos, outros estilos se foram sobrepondo, nomeadamente o gótico / manuelino, cujos vestígios observámos. Da época medieval é o panteão dos Resendes, com os seus vetustos túmulos góticos e as imagens da Virgem de Cárquere e da Virgem do Leite. O professor José Augusto, da Rota do Românico, foi o excelente guia desta visita, dispondo-se, de seguida, a orientar-nos no trajecto para a Casa do Lavrador, onde íamos almoçar, já muito perto do local a visitar da parte da tarde.
O almoço decorreu num espaço etnograficamente preparado como reconstituição de uma antiga casa rural, com seus comeres próprios, servidos por moças trajando à moda das antigas camponesas. Como prato principal, o arroz de forno com frango assado e batatas assadas.
Belo almoço! – após o qual fomos até à Casa de Tormes, sede da Fundação Eça de Queiroz, “instituição de utilidade pública administrativa, sem fins lucrativos, que tem como cais de partida a divulgação e promoção nacional e internacional da obra do maior nome do romance português” (site da Fundação). A Casa foi herança da mulher do escritor, D. Emília de Castro Pamplona, mas a família nunca chegou a viver nela, apenas alguns dos seus descendentes. Eça visitou-a quando era apenas um casarão ocupado como celeiro pelos rendeiros e sonhou, talvez, com a sua recuperação. Não conseguiu concretizar o sonho, mas inspirou-se na casa e naquele espaço de grande beleza natural para escrever o seu romance A Cidade e as Serras, no qual os descreveu como contraste com o luxo monótono e entediante do palacete parisiense do protagonista, Jacinto.
Casa de Tormes
Fundação Eça de Queiroz - Casa de Tormes
No final da tarde, rumámos a Vila Real. Jantar e dormição no Hotel Mira Corgo.
O dia 26 foi destinado a visitar Lamego. Eça de Queiroz não nomeia esta cidade, mas situa nela algumas das cenas de A Ilustre Casa de Ramires. Estudiosos da obra identificaram diversos locais, que são referidos com outros nomes. De manhã visitámos o Santuário de Nossa Senhora dos Remédios e as Caves Raposeira, lugares de degustação espiritual e corporal. Em reforço desta, seguiu-se o almoço, num restaurante mesmo em frente da Sé de Lamego. De tarde, cada um passeou por onde quis e comprou o que apeteceu. A meio da tarde, iniciámos a viagem de regresso.
Vem a propósito uma referência elogiosa ao motorista Quaresma. Na véspera enfrentara com eficácia profissional as curvas das apertadas estradas da serra de Montemuro, caminho de Cárquere. Os trezentos quilómetros de auto estrada no regresso foram mais repousantes. Para ele o nosso grato reconhecimento.
Não foi um mero passeio, esta viagem. Foi uma visita cultural e de fraterno convívio. E outras ficaram combinadas para o futuro.
Joaquim Moedas Duarte