25/02/2019

Fátima e Fado, na história de Portugal


Fátima está ligada ao Fado e… ao Futebol. Lembram-se? Os três efes (FFF) que o Estado Novo terá elevado como bandeiras de Portugal e que muita crítica Salazar recebeu. Pois os três efes nunca foram tão sublimados como agora. N. Sr.ª de Fátima continua a ser o altar do mundo; o Fado passou a Património Imaterial da Humanidade e o Futebol promoveu Portugal a campeão da Europa (feito inédito) e a ver um seu futebolista eleito como o melhor do mundo.
Fomos pelos caminhos da história ao encontro de factos mais relevantes e menos conhecidos. A igreja de N.ª Sr.ª de Fátima, inaugurada em 1938, em Lisboa, com os seus impressionantes vitrais, é um assomo extraordinário. Já o Museu do Fado, fundado há duas décadas, talvez 
ainda não tenha tido tempo para mostrar toda a história fadista, mais que centenária.
Com guias conhecedores das instituições, fomos em “visita de estudo” à igreja de N. Sr.ª de Fátima e ao Museu do Fado. Uma iniciativa oportuna da Prof.ª Maria Rita Sarreira (História Local e História de Portugal), cuja narrativa histórica disponibilizou aos participantes e que a seguir se transcreve:

(João Gouveia)


IGREJA DE N.SR.ª FÁTIMA
“O projecto da igreja de N. Sr.ª de Fátima, foi entregue ao arquiteto Porfírio Pardal Monteiro pelo Cardeal Patriarca. Na época foi muito contestado pelos católicos conservadores. A planta é retangular e estamos perante um edifício de grandes proporções com linhas direitas e formas geométricas, com uma linguagem modernista, na assimetria, na cobertura, uso do betão e influências da art déco.

A fachada principal é retilínea e orientada a nascente. Do lado esquerdo apresenta um cunhal mais alto do que o edifício, onde está a imagem de Nª Sª de Fátima, de António Costa (1889-1970) com uma tocha em cantaria de calcário.

É rasgado por três janelões retangulares com vitrais desenhados por Almada Negreiros (1893-1970). A zona inferior, apresenta um corpo saliente coroado por 13 edículas retangulares com Jesus e os Apóstolo de FranciscoFranco (1885 -1955). A torre sineira assimétrica surge do lado direito com 45 m de altura. Está rematada em coruchéu otogonal com catavento de bronze no topo.

A fachada frontal e a posterior ostentam cruz latina. A capela-mór forma um polígono de cinco faces marcadas por vitrais inscritos em quadros com molduras. Na base da capela-mor estão no 1º piso as 
capelas mortuárias e no 2º andar o cartório e a sacrist Junto aos portais há pias de água benta poligonais sobre mísulas. O arco principal triunfal, lembra a arte bizantina, com pintura de 
Cristo ao centro e a inscrição em latim “Ofereceu-se a si mesmo a Deus, sem mácula”.

Os frescos murais são do pintor Lino António, com representação de figuras da igreja (Arca de Noé, Tabernáculo de Deus, Jerusalém Celeste, Barca de Pedro), tendo no centro a âncora da Esperança com peixes, os Patriarcas e Sacerdotes da Antiga Lei (Abel, Abraão, Melquisedec), veados e anjos.

Na entrada, está um vitral de Almada Negreiro que representa a Santíssima Trindade com a companhia do Calvário, (Maria, Madalena e João) e figuras de guerreiro e da hierarquia, mas também anjos (2 com trombetas). O outro vitral, de Almada Negreiros, o maior na cabeceira da igreja em polígono penta facetado, apresenta os anjos cantores e músicos, em sinfonia, numa mancha azul celeste, cantando os louvores a Deus.

Por detrás do altar–mor está o sacrário num cibório composto por mármores em cantaria, onde surge uma estrutura de 4 pilares que sustentam a cobertura piramidal, forrada a mosaico dourado e com 
símbolos eucarísticos que amparam o trono expositivo de 5 degraus escalonados.
O espaço que comporta o altar é coberto de um teto plano, onde surge a figura do Espírito Santo com um fundo azul.

Ao fundo, vemos as 4 figuras aladas aplicadas aos 4 Evangelistas. O coro-alto tem uma varanda pintada com o Coração da Virgem ao centro, é franqueado por santos portugueses (Teotónio, Bento Nuno Alvares, João de Deus, Gonçalo, António, e João de Brito) e do lado oposto santas portuguesas (Virgens Júlia e Máxima, Beata Teresa, Santa Isabel, Santa Luzia e a Beata Beatriz) frescos de Lino António.

Sobre o coro ergue-se um grande órgão iluminado por vãos protegidos por vitral, compondo uma crucifixão tripartida. As naves laterais estão iluminadas por 2 frestas com vitrais a representar turíbulos. São dedicadas a Santo António, Nossa Senhora do Carmo e Sagrado Coração de Jesus no lado do Evangelho e no lado da Epistola a Santa Teresinha, S. José e Nossa Senhora das Dores.

O batistério é da autoria de José de Almada Negreiros, os vitrais, os mosaicos, as pinturas, o gradeamento de ferro (da autoria de Júlio Ferry Borges) com figurações de água (purificação) peixes (ícone dos cristãos), árvores (árvore da vida) É constituído por um corpo de planta circular, no centro a pia batismal com a estátua de S. João Batista de Leopoldo de Almeida.

No lado esquerdo de quem entra, está um vital que representa a expulsão do Paraíso de Adão e Eva, lembrando-nos que por isso somos batizados. Na abóbada do teto tem pombas (Espírito Santo), ovelhas (os cristãos) em pastagens verdejantes e os veados. Ao entrar a cota é de grande desnível, símbolo da entrada do batizado para a assembleia.

O presépio de Maria Amélia Carvalheira está no último altar, ao fundo, do lado esquerdo da Igreja. É um presépio sóbrio, simples, moderno e sereno”.

MUSEU DO FADO

“O fado nasceu, no séc. XIX, nos contextos populares de convívio e alegria. Manifestava-se nas hortas, nas esperas de touros, nas ruas e vielas, nas tabernas...cantavam-se as narrativas do quotidiano. Está presente no episódio lendário de envolvimento da Severa com o conde Vimioso. Participava nas festas de beneficência, nas cegadas representadas nas ruas, nas verbenas, nas associações e nas coletividades.

Com a censura em 1926, o Fado sofreu profundas mutações, passa a ser regulado por licenças e empresas suas promotoras e exige-se carteira profissional e contratos. Vai-se afastando do improviso, obriga à especialização dos intérpretes, autores e músicos, marca presença na rádio, na sétima arte e na televisão”.

(Prof.ª Maria Rita Sarreira)

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