ROUPAS DE CORPO, DE CAMA E OUTROS LEGADOS TESTAMENTÁRIOS NA IDADE MODERNA TORRIENSE

PALESTRA EM 8 DE MAIO DE 2025 NA AUTITV

O título prometia algo de diferente e a oradora, Profª Manuela Catarino, garantia intervenção muito interessante. Desta vez tratou-se de uma abordagem ao século XVII, a partir da análise a uma das fontes primárias mais produtivas para o conhecimento histórico, os testamentos. Através das suas disposições, é possível enumerar muitos pormenores da vida quotidiana, pese embora o facto de só as classes mais ricas o fazerem, deixando perpetuado no escritório do tabelião o registo das últimas vontades.

A oradora pegou numa dessas fontes e trouxe-nos detalhes curiosíssimos do que foi a vida de alguns personagens de duas famílias importantes que habitaram Torres Vedras no século XVII, os Godinhos e os Azevedos. Recordou os diversos passos dessas personagens e o que elas partilharam por testamento, com os tais pormenores em que entram roupas de corpo e de cama, na época em que não havia pronto a vestir nem lojas de roupas e tais bens eram valiosos.

Os testamentos, muitas vezes cerrados, eram frequentemente geradores de surpresas desagradáveis para os familiares e servidores dos defuntos, o que dava origem a conflitos que se dirimiam em tribunal. Por isso, os julgamentos e as sentenças são, também, esclarecedoras fontes históricas.

De tudo isto falou a Profª Manuela Catarino, que, a finalizar, encaminhou o seu relato para um desfecho inesperado: a análise à grande lápide tumular existente na Igreja do Convento da Graça, em Torres Vedras, junto ao altar colateral do lado do Evangelho, dedicado a S. Nicolau Tolentino. A lápide gravou em pedra o que o testador ditou ao tabelião, tornando perene o que poderia ser temporário se ficasse registado apenas em papel. Sobre a inscrição, a imagem comovente dos dois brasões das famílias Godinho e Azevedo, ligados por duas mãos, que tornam eterno o pacto de amor que uniu António Godinho da Cunha e D. Maria de Azevedo.

Joaquim Moedas Duarte