No dia 22 de Março de 2017, realizou-se mais um encontro de poesia das universidades seniores do Oeste, desta vez organizado pela Universidade Sénior da Benedita, que contou com as participações de: Alfeizerão, Nazaré, Caldas da Rainha, Marinha Grande, Pataias, Peniche, Alcobaça, Rio Maior, Torres Vedras e da Universidade anfritriã.
A AUTITV fez-se representar pelos alunos:Teresa Sousa Dias, Teresa Sarzedas, Raul Ribeiro e Maria João Menezes, que declamaram os seguintes poemas:
Autor: Nuno Júdice
Declamado por: Maria Teresa Sousa Dias
A origem do Mundo De manhã, apanho as ervas do quintal. A terra
ainda fresca, sai com as raízes e mistura-se com
a névoa da madrugada. O mundo, então,
fica ao contrário: o céu, que não vejo, está
por baixo da terra: e as raízes sobem
numa direcção invisível. De dentro
de casa, porém, um cheiro a café chama
por mim: como se alguém me dissesse
que é preciso acordar, uma segunda vez,
para que as raízes cresçam por dentro da
terra e a névoa, dissipando-se, deixe ver o azul.
Autor: Eugénio de Andrade
Declamado por: Maria Teresa Sarzedas
Há Dias
Há dias em que julgamos
que todo o lixo do mundo nos cai
em cima. Depois
ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam.
Não lhes sei o nome. Uma
ou outra parece-se comigo.
Quero eu dizer: com o que fui
quando cheguei a ser
Luminosa presença da graça
ou da alegria.
Um sorriso abre-se então
Num verão antigo
E dura, dura ainda.
Autor: Joaquim Pessoa
Declamado Por: Raul Ribeiro
Outono
Uma lâmina de ar, atravessando as portas.
Um arco, uma flecha cravada no Outono.
E a canção que fala das pessoas.
Do rosto e dos lábios das pessoas.
É um velho marinheiro, grave, rangendo o cachimbo, como uma amarra.
À espera do mar.
Esperando o silêncio.
É o Outono.
Uma mulher de botas atravessa-me a tristeza, quando saio para a rua, molhado como um pássaro.
Vêm de muito longe as minhas palavras, quem sabe se a minha revolta. Ou do teu nome que repito.
Hoje há soldados eléctricos.
Uma parede cumprimenta o sol.
Procura-se viver.
Vive-se, de resto, em todas as ruas, nos bares e nos cinemas.
Há homens e mulheres que compram o jornal e amam-se.
Como se de repente não houvesse mais nada
senão a imperiosa ordem de (se) amarem.
Há em mim uma ternura desmedida pelas palavras.
Não há palavras que descrevam a loucura, o medo, os sentidos.
Não há um nome para a tua ausência. Há um muro que os meus olhos derrubam.
Um estranho vinho que a minha boa recusa.
É Outono.
A pouco e pouco despem-se as palavras.
Autor: Joana de Borja (Pseudónimo)
Declamado por: Maria João Menezes
O Tango da Minha Vida
A vida é um Tango,
Um tango de promessa.
Afinal, que é um tango?
Afinal, que dança é essa?
É uma chega-chega-chega,
É um arreda mais p'ra lá;
É uma vida quase cega;
É um tombo mais p'ra cá.
É uma dança linda essa,
Que nos mexemos com par.
É uma vida de promessas;
São dois corpos a bailar.
Baile com movimento,
Elegante no mexer;
É entrega, é sentimento
Esta forma de mover.
Dois corpos se cruzam,
Dois corpos se entrelaçam;
Duas sobras se ajudam,
Dois espíritos se abraçam.
São apenas só dois corpos
Corpo e alma num só par.
Quando acabam são dois mortos,
Vivos, mortos de dançar.
São duas chamas que se acendem,
É jogo que se incendeia;
Corpo e espírito se prendem
Numa luz que nos rodeia.
A vida é movimento
É um rodopio constante.
A vida é sentimento
Sentimento incessante:
De mágoa e amargura;
De paz e felicidade;
De angústia e doçura;
De afecto e bondade.
Que coisa boa o embalo
Do tango desta vida.
Vivê-lo é um regalo,
Minha dança preferida!
Autor: Maria Teresa Almeida (Titi)
Declamado por: Maria João Menezes
Para e Pensa
Se gritas e esbracejas
Falas por falar
Ninguém te acredita
Nem te vai escutar
Se mandas impões
Tua autoridade
Terás o que queres
Mas não amizade
Se teu tom é seco
Teu ar de arrogância
Revelas teus medos
E intolerância
Se a voz é meiga
Atitude segura
Revelas carinho
Amor e ternura.
Sem comentários:
Enviar um comentário