Na passada quinta-feira, dia 28 de Abril de 2022, às 15 horas, a Professora Odete Bento, conseguiu um feito muito especial. Organizou um encontro na Brasileira, no Chiado, ,entre Fernando Pessoa, Bernardo Soares, Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Descemos o eterno Chiado que existe na nossa memória colectiva, quanto mais não seja.
Fernando Pessoa desce o Chiado, do seu tempo e encontra Bernardo Soares, a sua sombra. Nesse encontro somos remetidos para a beleza de Lisboa que ninguém consegue conhecer a menos que a luz de Lisboa se tenha alguma vez inscrito na sua alma. Existe a saudade, o fado e a solidão. Coisas da alma a que Lisboa empresta a sua luz.
A alma tem, de facto, coisas que não se conhecem mas que se sentem e recordam. Bernardo Soares encanta-nos com o seu Desassossego, onde se sonha e nem sempre, se consegue mais do que isso. Soares apresenta-nos o poeta. A música, o fado, a luz, a saudade parecem-nos tangíveis mas depois não o são. Talvez resida aqui a beleza da alma – sentir e não chegar a lado nenhum.
Já na Brasileira, Pessoa desmultiplica-se nos seus heterónimos.
À volta da mesa de café, Alberto Caeiro, invoca a música da alma que é acompanhada pelo vento. O vento só passa da mesma forma e no mesmo lugar, uma vez. Bernardo Soares interpela Alberto Caeiro referindo-se à sua qualidade de “guardador de rebanhos”, sendo o vento que passa, que passou e vai passar oura vez. Esse vento intangível que traz memória e saudade do que nunca foi.
Álvaro de Campos, na sua Ode Marítima refere a música que o embala na viagem e que lhe permite recordar a infância de forma saudosa, onde não se volta, como o vento que passa só uma vez. A infância é um “boneco partido” onde só se volta viajando na memória, enquanto existe memória.
Ricardo Reis responde a Alberto Caeiro, fazendo uso da noção do tempo. O tempo passa e também este, só passa uma vez. Assim, há que aproveitar o momento da sua passagem. Carpe Diem projecta-nos para a vivência do momento presente: o aqui e o agora. Na sua Ode Horaciana diz que o “pouco que nos dado” só se pode viver no momento que é fugaz e constituído por tempo e vento que passam só uma vez.
Bernardo Soares centra-se no acto de escrever, como forma de esquecer. Segundo ele, a literatura permite que ignoremos a vida. O romance, o drama, a história, o poema são formas de simular a vida, de expressar ideias ou sentimentos numa linguagem que ninguém emprega.
Referindo-se aos múltiplos “eus” que vivem em si, Fernando Pessoa afirma que escrever é , de facto forma de esquecer mas que recordar é viver.
Uma Senhora que se encontrava no Público entregou uma carta de admiração a Fernando Pessoa, na qual afirmava que ele afinal não era louco. É muito fácil apelidarmos de “loucos” aqueles que não entendemos, em cujos “mocassins” nunca andamos. A carta expressa o orgulho em Fernando Pessoa que anda pelo mundo, português
Pessoa agradece a carta que lhe foi entregue e afirmou que “o poeta é um fingidor”.
Fernando Pessoa é também interpelado relativamente às suas cartas dirigidas a Ofélia. A questão fá-lo sentir-se envergonhado e diz que todas as cartas de amor são ridículas mas mais ridículas ainda, são as pessoas que nunca as escreveram. Segundo Pessoa, o amor escrito, faz surgir o ridículo nos seres humanos mas isso também é um sentimento delicioso.
Já perto do fim do encontro na Brasileira, Pessoa fala uma vez mais da infância que recorda. O sino da sua aldeia faz com que o passado se esvaneça e surja a saudade desse mesmo passado.
Mais uma vez, Ricardo Reis intervém para dizer que o “destino” é cumprido e desejado, por cada um de forma singular e única, dadas as circunstâncias da vida de cada um. Nem sempre o que se deseja se cumpre, nem o que se cumpre, se deseja. Enfim!
Caeiro põe fim ao encontro afirmando que “pensar incomoda”. Ser poeta não é sua ambição, mas apenas a forma de estar sozinho. Talvez o seu destino…
Foi um momento - de destino, saudade, rio Tejo, Chiado, Brasileira, iluminado pela luz e cheiro de Lisboa, onde a condição humana esteve muito presente.
O mais surpreendente foi que tudo isto aconteceu numa sala de trabalho da AUTITV, em Torres Vedras.
Todos fomos unânimes que nada disto teria acontecido se não fosse o extraordinário emprenho e orientação da Dra. Odete Bento, com quem é um prazer imenso aprender.
Usufruímos, no final, das amáveis palavras de reconhecimento e apreciação da Dra. Dulce Geraldes, na qualidade de Presidente da Direcção da AUTITV.
Assim terminou o início da tarde do dia 28 de Abril de 2022, na AUTITV, em Torres Vedras.
Orientação: Professora ODETE BENTO
Participantes: Por ordem na qual intervieram
Fernando Pessoa – MANUEL RATO
Bernardo Soares – RUI BARATA
Alberto Caeiro – MANUELA BRAGA
Álvaro de Campos – TERESA SARZEDAS
Ricardo Reis – PAULA PAGE
Trovador – MANUEL TEIXEIRA
Senhora do Público – MARIA GRACINDA BARATA
Paula Page
3 comentários:
Quem diria melhor? Gratidão, Amizade, Prazer e Orgulho de pertencer a esta Turma!...
Querida amiga Odete como sempre estás de parabéns pela tua doação e dedicação com os teus ensinamentos e neste caso o Nosso Fernando Pessoa.
Gratidão e até sempre!
😘🙏
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