Este é um registo um pouco atrasado pois a palestra foi em 9 de Maio passado. Faço-o na primeira pessoa, como palestrante, para que perdure na memória este momento evocativo.
Vivi a infância e a juventude em Alpiarça, perto de uma comunidade de pescadores do rio Tejo que habitava a aldeia ribeirinha do Patacão. Esses pescadores eram conhecidos por “avieiros” pois os seus antepassados haviam migrado, em finais do séc. XIX, da praia da Vieira – de mar batido e perigoso que impossibilitava a pesca no Inverno – para as margens amenas e acolhedoras do Tejo e do Sado. Durante cerca de um século granjearam o sustento na faina da pesca de rio, onde abundavam o sável, a boga, a fataça, a lampreia… Mas, na segunda metade do séc. XX, a escassez de peixe trouxe a penúria e eles foram abandonando as suas aldeias. Delas, restam cabanas abandonadas ou adaptadas ao turismo e as memórias de uma cultura própria que alguns estudiosos procuram preservar e classificar como “património nacional”.
Quando se fala destes pescadores e dos seus modos de vida, é forçoso recordar o romance de Alves Redol, publicado em 1942, intitulado “Avieiros”. É um livro que vale a pena reler. O autor passou alguns meses na aldeia avieira da Palhota (concelho do Cartaxo) – onde ainda hoje se preserva a memória dessa vivência – para recolher elementos para o seu trabalho. Dessa experiência resultou um livro belíssimo. Por ele, nós entramos no quotidiano daquela gente, que Redol chamou “nómadas do rio” pois eles, antes de se fixarem em cabanas de madeira, começavam por viver nos barcos, abrigados debaixo dos salgueiros das margens. É uma escrita ficcionada onde não faltam as intrigas e as relações familiares, os amores e os ódios, onde jorra a vida real, sofrida e exaltada de uma comunidade avieira.
Aos companheiros da UTI, que estiveram na palestra, agradeço a alegria de terem partilhado as minhas recordações.
Alves Redol e os avieiros merecem a evocação que deles fizemos.
Alves Redol e os avieiros merecem a evocação que deles fizemos.
Joaquim Moedas Duarte
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