21/06/2021

28ª Edição dos Jogos Florais 2021

É com orgulho e satisfação que damos conhecimento que as sócias / alunas da Universidade Sénior de Torres Vedras, Maria Ernestina Parreirinha e Maria Teresa Sarzedas, participaram na 28ª Edição dos Jogos Florais (Jogos Florais 2021), promovida pela UATI - Universidade do Algarve para a Terceira Idade, com o tema Do medo à Solidão ... Envelhecer em Pandemia e obtiveram a seguinte classificação: 


1º lugar na modalidade  PROSA - ENSAIO 

Maria Ernestina Parreirinha

Peça premiada: Viver e sobreviver em Pandemia


"Viver e sobreviver em Pandemia

A partir de março de 2020, o Covid 19 veio revolucionar os hábitos da nossa sociedade e do mundo em geral. Esta doença (vírus) propaga-se através do convívio interpessoal e é transversal a toda a humanidade. Contudo, como as pessoas das classes etárias mais velhas, e os mais desfavorecidos financeiramente, têm mais dificuldade em superar o seu impacto devido à fragilidade orgânica e material.

A organização política e social mundial, foi posta em causa com esta pandemia. Esta desarrumou o planeta, a casa das casas. Pôs em causa as leis dos Estados. Passámos a dar mais atenção aos cientistas e a seguir as suas recomendações para que possamos defender desta doença que veio pôr em causa a nossa saúde e a nossa livre circulação no mundo. Politicamente adotaram-se regras, do estado de emergência ao estado de confinamento e vice-versa. Tornou-se obrigatório o uso da máscara e a higienização das mãos com os géis de álcool. Estabeleceu-se o distanciamento social. Procedimentos que qualquer cidadão é obrigado a adotar.

Todo este cenário prova que no percurso da humanidade, as regras sociais, não são um bem adquirido. A vida é uma constante mudança, lá dizia o poeta. É uma luta evolutiva continua que, nos modela de modo a podermos conseguir enfrentar este e outros desastres civilizacionais. Não podemos perder a esperança.

Dentro das grandes mudanças impostas, a que tem mais impacto nas pessoas é, na realidade o distanciamento social. Somos animais sociais e de hábitos. A rutura imposta na troca de experiências no convívio pessoal, do dia a dia, gera muita angústia que por vezes leva a distúrbios psicológicos. Portanto, tivemos que parar e tivemos que pensar. Pensar outra forma de dar algum sentido aos nossos dias. Sim, porque vivemos numa sociedade de consumo e permanente circulação. Acabamos por consumir muito mais do que precisamos, tanto a nível material ou imaterial.

A organização económica do mundo criou modas e necessidade ao cidadão em que, as suas rotinas diárias por vezes, passam por uma troca de coisas por coisas. Neste processo, andamos todos muito ocupados à procura de encontrar algo que realize os nossos “sonhos”. Esta forma de viver e conviver em sociedade é transversal a todas as classes etárias. Os mais velhos, até viram nesta opção uma forma de dar mais sentido às suas vidas, sobretudo depois de se retirarem da sua profissão ativa.

Portanto, os hábitos diários que adotámos, foram postos em causa. Foram proibidas as visitas à família, a ida à universidade, ao ginásio, ao cinema, o almoço fora ou a ida à esplanada com os amigos… e a livre circulação entre concelhos para realizar qualquer tipo de vivência. Estas foram algumas das proibições implementadas para que, as pessoas não propaguem o vírus, não provocando uma mortandade agressiva na sociedade.

A alteração de certas regras sociais, são o prenúncio para a passagem para um novo mundo que, com muitas interrogações, temos que aceitar, mas que nos angustiam psicologicamente. Temos que abandonar alguns hábitos que praticávamos, os quais tínhamos como um valor adquirido no nosso meio social. Mas o tempo transforma as coisas e a caducidade também vale para as leis que regem a sociedade. Entrámos num novo paradigma social, e este abrange qualquer cidadão do mundo.

Por tudo o que deixámos de poder fazer, estamos a perder o espanto pelo quotidiano. Neste momento a vida tornou-se mais monótona, sentimos que uma hora se tonou igual à outra. Mas, vamos de ter de abandoar este ócio que gera um certo tédio.

Às vezes o ócio está na origem de novas descobertas. É um tempo para pensar e refletir no maravilhoso que a vida nos oferece. Usemos a nossa liberdade, adotando novas soluções para a fruir com mais qualidade afetiva. Para tal as novas tecnologias irão facilitar essa nova maneira de convivermos no espaço público e privado.

Vai ser parte da solução, a utilização dos parques, os jardins, os jogos, o campo e a contemplação da natureza em passeios pedestres. A permanência mais assídua em casa para a dedicação à leitura, que por vezes adiávamos para os dias mais chuvosos. As tertúlias familiares vão regressar ao espaço privado. Os filmes que ainda não vimos, vão ser um meio de entretenimento familiar.

O reencontro com este consumo de lazer vai-nos oferecer novas experiências das quais, alienadamente, nos viemos a afastar. Vamos adotar um caminho mais natural e menos comercial. Vamos resistir ao caldo social em que, a correria para os espaços comerciais seja feita com mais parcimónia, não nos escravizando como condição imprescindível no dia a dia. Sim porque como seres humanos, entrámos numa roda dentada, que nos traz pouco fortalecimento espiritual e social. Somos coagidos a estar nesses sítios pela “moda” e pelo apelo publicitário ligado a uma trama financeira bem oleada, em que fazemos compras sem por vezes termos necessidade de certos produtos. “Fazem-nos acreditar que assim, somos mais felizes.”

Temos que criar novos hábitos para gerar uma vida mais plena, onde o planeta também seja poupado a tanto desperdício material, ajudando o meio ambiente. Vamos limpar as cidades de tanta poluição sonora e de nevoeiros tóxicos, fazer dos rios um espelho refletor da nossa ação onde o detergente não os torne pestilentos. Vamos evitar que o planeta nos surpreenda mais uma vez devido ao nosso consumo exagerado. Não deixemos que a indústria alimentar impere na produção de produtos do seu interesse financeiro e económico. Não nos deixemos manipular. Usemos com parcimónia os veículos motorizados sobretudo dentro das cidades.

Espero que socialmente, aproveitemos esta situação, e se faça um esforço e se evolua do desperdício, em que afogamos o meio ambiente, à abstenção do consumo de bens que a publicidade incute nas pessoas, formatando-as.

O supérfluo cria desarmonia à vida das pessoas e do planeta. Há muito a fazer, cada pequeno passo fará a diferença na qualidade de vida que iremos proporcionar às futuras gerações, sem exceção de classes. Essa ocupação tem de ser um voluntarismo permanente de todos os cidadãos do mundo. "

2º lugar na modalidade  QUADRA 

Maria Teresa Sarzedas

Quadra premiada: Pandemia


PANDEMIA 

Sopinhas  de solidão

Na velhice dão azia…

P'ra estragar a refeição

Já cá está a pandemia.

1º menção honrosa na modalidade   ENSAIO 

Maria Teresa Sarzedas

Peça premiada: Os anos passam depressa


OS ANOS PASSAM DEPRESSA

“Quando eu for velhinha…” pensava eu, às vezes, quando estava ao pé da minha avó.

Ela não trabalhava, recebia um dinheirinho do banco todos os meses, e punha sempre 5 escudos no meu mealheiro.

Passeava devagarinho, regava as flores, fazia-me camisolas de malha, contava histórias e também brincava comigo… e eu, sem conhecer ainda a vida, julgava que quando fosse velhinha seria também assim, este aparente mar de rosas!

Mas os anos passam e as vidas mudam, de casa, de terra, de país, e afinal o que pode ter de bom esta independência adquirida, que a idade quase sempre nos oferece?

Mesmo assim, por que não tirar partido das ínfimas coisas, e rir do que nos acontece todos os dias, desde que não seja grave?

Rir quando encontramos a carteira no frigorífico, os óculos no armário dos sapatos ou a caixa de fósforos na casa de banho!

E também, dentro da solidão, poder acordar de noite, acender a luz e tropeçar nos pés da cama, sem ter de ouvir “Chiu, quero dormir, apaga a luz”!;

poder ir de madrugada à cozinha e fazer um estardalhaço com as tampas das panelas, só para tirar o púcaro de aquecer o leite;

e até acender a televisão!

Medo? Qual medo?

Medo tinha eu do lobo do Capuchinho Vermelho e do lobo dos Três Porquinhos (que não sei se é o mesmo), e do Monstro da Bela.

Mas isso já lá vai, já perdi os medos todos! ... a não ser deste medo que anda aí, invisível, pior que o lobo, pior que o monstro e, este sim, nos tira bocados de vida.

Quem nos dera deixar de ouvir falar em pandemia, confinamento, covid-19…

Por isso, ainda mais temos de utilizar todos os bocadinhos para rir!


3º menção honrosa na modalidade  EXCERTO DE DIÁRIO 

Maria Teresa Sarzedas

Peça premiada: Remédio

Remédio

- “Não há remédio para o medo da solidão…” - dizem alguns.

- “Dá-me a tua mão.” - conseguem dizer outros.


A Direcção da AUTITV agradece e felicita com muito orgulho as participantes.

2 comentários:

José Patrício disse...

Parabéns à consócia e condiscípula, Maria Parreirinha. Tomar consciência da situação do planeta, a «casa das casas», é muito importante. Obrigado pelo seu contributo...

José Patrício disse...

Parabéns, Teresa! Peço me desculpe a distracção. Só agora vejo (creia-me) as suas contribuições. Gostei muito. E com poucas palavras se pode dizer muito... (caso do «Remédio»).