INVERNO SEM CHUVA....

A propósito da ausência da chuva, neste Inverno de 2012 que está prestes a chegar ao fim, o colega Cosme enviou-nos um breve apontamento e também um poema de João de Deus, que a seguir se transcrevem:

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Estamos a chegar ao fim do inverno e a chuva não aparece.

As barragens estão com níveis abaixo do que seria normal para a época. Os pastos para os animais estão secos. Os incêndios já estão a surgir por todos os lados. O que será quando chegarmos ao verão?

Já se ouvem alertas para possíveis racionamentos do abastecimento de água que é imprescindível à vida e sem ela não podemos viver.

Este inverno, dizem, é dos mais secos dos últimos anos mas ao longo da história da humanidade já tem havido situações idênticas o que tem levado crentes em Deus a implorar que chova através de rezas e procissões.

Ainda no dia 13 de Março,  num noticiário televisivo ouviu-se o Bispo de Beja alertar os crentes da sua diocese para o caso.

O grande pedagogo e poeta João de Deus, autor da Cartilha Maternal, nascido no Algarve, em S. Bartolomeu de Messines em 1830 e falecido em Lisboa em 1896 dá-nos um apontamento dessas preces religiosas através deste seu poema:  

Aquele Padre Fonseca

(Perdoe Sua Reverência)
Com o seu génio frenético
Foi sempre um grande ratão.

Um ano de grande seca,
Que houve na vila de Olhão
Procissão de penitência,
Pregava ele o sermão;

 E ao entrar a procissão

Prorrompe neste patético
Aquela voz de trovão:

- Nem uma gota de chuva

Vos há-de cair do céu!
Nem gota, vos digo eu!
Que em Deus estando irritado,
Já nem lhe importa mendigo,
Nem lhe importa potentado,
Nem desgraçada viúva,
Nem órfão desamparado:

Prega os olhos no pecado
E desfecha-lhe o castigo!
Nem gota de água vos digo,
Nem uma gota de chuva!

 E como ainda insistisse:

“Ó Senhor! Brada o Lacerda,
Nem um orvalho?!
Nem merda…”
…Disse.


(Joaquim Cosme)