Integrado no plano da disciplina de História de Portugal da AUTITV, ministrada pela Sra. Professora Rita Sarreira, deslocámo-nos ao palácio Nacional da Ajuda, para, “de uma cajadada matarmos dois coelhos”, ou seja, visitarmos o Palácio Nacional da Ajuda e o Museu do Tesouro Real, aí instalado.
Aí chegados, a turma foi repartida em dois grupos, seguindo um a visitar o Palácio propriamente dito, e ou outro encaminhou-se para área reconstruída do Palácio, onde se guarda o Tesouro Real.
PALÁCIO NACIONAL DA AJUDA
O Palácio Nacional da Ajuda, como o próprio nome indica, está situado na Ajuda, em Lisboa, e foi a última morada dos monarcas portugueses, até à implantação da Républica, em 1910. Iniciou-se a sua construção em 1795, num local onde antes existira a “Real Barraca”, morada temporária da família real, construída depois do terramoto de 1755, que mandara edificar por receio de novas derrocadas e que duraria até 1794 altura em que ardeu. Note-se que foi nesta construção que se conservaram, durante alguns anos, a documentação que se “salvou” e que se conservava na torre de menagem do Castelo de S. Jorge, a “Torre do Tombo”.
O projeto inicial sofreu várias alterações e adaptações, sobretudo ao nível da sua dimensão, que previa uma área tês vezes superior à existente, e também quanto ao seu estilo, impondo-se uma versão final neoclássica. O edifício foi habitado, com caráter permanente, pela família real durante os séculos XVIII e XIX, com algumas interrupções, ora motivadas pelas invasões francesas e a consequente “fuga” da família real para o Brasil, ora pelas guerras civis, consequência das lutas liberais. D. Maria Pia de Saboia, a partir de 1862, rejuvenesce o palácio com uma profunda reforma, não só nível da decoração, mas também na melhoria das condições de conforto, higiene e habitabilidade. Aqui nasceriam os últimos reis da monarquia portuguesa, D. Carlos e D. Manuel, o primeiro assassinado a 1 de fevereiro de 1808 e o segundo exilado na sequência da implantação da República a 5 de outubro de 1910, tendo sido encerrado, até que em 1968 reabriu ao visitante como Palácio Nacional.
Magnificas são as salas, que como hoje as conhecemos muito devem ao gosto de D. Maria Pia de Saboia, quase sempre muito exuberante e caro, ao engenho e arte do seu arquiteto, Possidónio da Silva. A maior parte das salas, são forradas com tecidos de seda, mantendo-se muito do mobiliário da época e a disposição dos espaços da vida quotidiana de uma família desta natureza, mas também, como a sua condição impunha, dada a receções, festas, bailes e banquetes.
Para não nos alongarmos num texto descritivo, e porventura, maçador sobre o Palácio Nacional da Ajuda, optámos por deixar algumas imagens, que pela sua beleza e opulência “valem por mais do que mil palavras”.
O MUSEU DO TESOURO REAL
Na noite de 23 de setembro de 1974, pelas 22 horas eclodiu um incêndio, devastador, na ala poente do Palácio Nacional da Ajuda. Destruída, esta parte do palácio na sua quase totalidade, assim se manteve até à sua reconstrução e inauguração que ocorreu a 7 de junho de 2021. Aqui se instalou o novo Museu do Tesouro Real.
Este será, certamente, um edifício com história e que ficará para a história. Da sua traça arquitetural e segurança dá conta uma nota divulgada, na altura da inauguração do edifício, pelos promotores da reconstrução do edifício (Direção Geral do Património Cultural (DCPC), a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a Associação de Turismo de Lisboa (ATL) “Com um sistema de segurança do mais alto nível, o núcleo central deste edifício, que se apresenta com uma estrutura em vidro atravessada por lâminas verticais, irá ter uma caixa-forte com 40 metros de comprimento, 10 de altura e 10 de largura, três pisos e duas portas em aço, com cinco toneladas e 40 centímetros de espessura cada. É aqui que está a ser instalado o futuro Museu do Tesouro Real, onde poderá ser visitada a exposição permanente de um acervo de valor histórico, artístico e cultural em coleções de ourivesaria e joias da antiga Casa Real, cujo restauro das peças está a cargo dos técnicos do Laboratório José Figueiredo”.
O Museu do Tesouro Real está repartido por onze núcleos, espelhando a nossa História, em particular desde o séc. XVI ao séc. XX, e através da sua diáspora pelos cinco continentes. Refira-se que este acervo museológico está truncado de seis peças (um diamante de 6 quilates, um catão de bengala de ouro, um anel com um diamante de 37 quilates, uma gargantilha em ouro e prata com brilhantes, e dois alfinetes em forma de trevo com diamantes e brilhantes), que foram roubadas em Haia (Países Baixos), em 2002, juntamente como outras peças de diversos países.
1 - Ouro e diamantes do Brasil
Os Portugueses, desde a sua chegada ao Brasil em 1500, procuraram ouro e pedras preciosas, mas, só passados quase dois séculos, no final de 1600, é que descobriram as possantes jazidas de ouro na região posteriormente apelidada de Minas Gerais.
2 – Moedas e medalhas da Coroa
A cunhagem de moeda foi, ao longo dos anos um símbolo de poder real, que muitas vezes se materializava na quantidade de ouro que as moedas possuíam, sendo o inverso verdadeiro. Ou seja, quanto mais ouro tinham as moedas mais poderoso era o rei.
3 – Jóias
O acervo de joalharia do Palácio da Ajuda é composto por peças de diferentes proveniências. O grupo de "Joias da Coroa" era propriedade do Estado, estando o seu usufruto reservado aos soberanos em funções. Criado em 1827, na sequência do processo de partilhas de D. João VI, esteve ao serviço dos sucessivos monarcas até à implantação da República, em 1910. A coleção do Palácio da Ajuda é composta, igualmente, por dezenas de objetos de joalharia que foram propriedade privada de soberanos e membros da família real portuguesa entre os séculos XVII e XX.
4- Ordens Honoríficas
Criadas na Idade Média, foram perdendo a sua função inicial e foram adquirindo um carácter honorífico a partir do final do Antigo Regime, acabando por transformar-se em ordens meramente premiais. Desde então, todas ganharam destaque com o desenvolvimento das relações diplomáticas internacionais e consolidaram-se como uma ferramenta imprescindível para reconhecer méritos e serviços a cidadãos nacionais e estrangeiros.
5 – Insígnias Régias
O presente núcleo integra as insígnias de poder dos reis de Portugal. Tais objetos desempenhavam um papel crucial na cerimónia de advento de cada novo monarca, que em Portugal era designada por aclamação ou levantamento, uma vez que os reis não eram coroados nem sagrados ou ungidos. As insígnias portuguesas adequavam-se ao que era usual nas demais monarquias europeias, com um conjunto central de objetos simbólicos como coroa, cetro, manto, estoque, completado por outros objetos ligados diretamente a determinadas partes do ritual, como estandarte, trono, crucifixo, almofada, escrivaninha.
6 – Prata de Aparato da Coroa
Objetos de uso civil em prata dourada e ricamente trabalhada, constituíam verdadeiros tesouros, materiais e artísticos. Serviam, por isso, à representação e ao aparato. Do Tesouro recomposto após o Terramoto de 1755, destaca-se o excecional conjunto de 23 obras reservadas para os maiores atos públicos da Coroa, como os Batismos reais, a Aclamação, ou a cerimónia régia do Lava-pés aos Pobres, de Quinta Feira Santa.
7 – Coleções Particulares
Figura central do colecionismo de arte em Portugal no século XIX, D. Fernando II (1816-1885) teve na ourivesaria uma das suas áreas de eleição, interesse partilhado com o filho, D. Luís I (1838-1889). Através de aquisições efetuadas em Portugal e no estrangeiro, mas também de ofertas, reuniram importantes peças que desde cedo atraíram a atenção de estudiosos, tendo sido cedidas para exposições.
8 – Ofertas Diplomáticas
A diplomacia teve ao longo dos tempos um papel determinante nas relações entre Estados, bem como entre Entidades. À semelhança dos tratados e acordos, os presentes diplomáticos constituem-se como parte e expressão destas relações, com a respetiva carga de significados e simbolismo. Marcantes para a história da Diplomacia portuguesa foram as relações de D. João V com a Santa Sé que resultaram, nomeadamente, na elevação da Capela Real à dignidade de Igreja Patriarcal em 1716.
9 – Capela Real
As capelas reais foram, ao longo dos séculos, cenário de grandes cerimónias nas quais se exaltavam a devoção católica e o poder real, assinalando as datas do calendário litúrgico, bem como as comemorações associadas às pessoas reais, fazendo uso de preciosas alfaias litúrgicas. Para o espetáculo da Corte concorriam igualmente os músicos da Câmara Real e toda uma cenografia assegurada por vários artistas, que redesenhavam os espaços com sumptuosas armações em seda e ouro onde reluziam, à luz das velas, as pedrarias e metais preciosos das alfaias.
10 – Mesa Real
Testemunho único dos mais sumptuosos serviços de mesa de representação do século XVIII, a baixela encomendada pelo rei D. José I ao ourives François-Thomas Germain, em junho de 1756, no rescaldo do Terramoto, conserva-se, quase na íntegra, no património nacional. Concebida para servir “à francesa” como era uso nas cortes europeias de então, deveria compor sobre o “palco” da mesa, planificados e simétricos, os sucessivos conjuntos de magníficas obras de ourivesaria nas quais eram apresentadas as múltiplas iguarias: as Cobertas.
11 – Viagens do Tesouro
O Tesouro estava junto do Rei, acompanhava-o na sua glória e nos atos solenes, mas também nas suas vicissitudes, as do Reino e da sua história. Reserva de singulares objetos de Estado, joias, têxteis, sumptuosas baixelas foi, também, um recurso de riqueza e matéria preciosa. Os cofres do Tesouro embarcaram, por isso, numa inédita e arriscada travessia do oceano, que levou a Família Real e a Corte rumo ao Brasil, quando, em 1807, se deram as Invasões francesas.
A terminar não poderei deixar de recomendar, vivamente, mas com disponibilidade de tempo, uma visita a este espetacular espólio museológico que nos foi legado pelos nossos monarcas antepassados. Digo disponibilidade de tempo porque, para além da grande quantidade e diversidade de peças, as mesmas possuem legendas com muita informação explicativa, talvez demasiada, em meu entender. Por outro lado, o corpo da letra e a sua iluminação não facilitam a sua leitura. Independentemente destes pormenores vale a pena uma deslocação ao Palácio Nacional da Ajuda. E já agora, no final sempre pode ir comer um pastel de Belém (basta descer a Calçada da Ajuda).
Zacarias Rito/março de 2023
Fontes de apoio:
- Desdobrável elaborado previamente para a visita