31/03/2023

Tertúlia a 30 de março de 2023 - Objecto com História Pessoal


Antes de iniciarmos a Tertúlia, tivemos o prazer de desfrutar de uma aula de Biodança com a professora desta disciplina e seus alunos da AUTITV, em que participaram muitos dos inscritos na tertúlia assim como outros alunos que assistiram também à restante sessão.

Membros inscritos na Tertúlia: Maria Parreirinha, Dulce Geraldes, Joaquim Moedas Duarte, Ana Isabel Ladislau, Raúl lRibeiro, Maria João Menezes e Christiane Schikert.

A 1ª oradora, retirou de um sobrescrito a recordação de uma pequeníssima flor seca e descolorida que outrora seria cravo e de cor vermelha, com cerca de quarenta e muitos anos, recordação da boda do seu casamento. Esta relíquia inesquecível do dia desta festa, em que as mesas estavam decoradas com centros de cravos brancos e vermelhos, à volta das quais se reuniram a família, amigos e noivos, sem faltar o bolo de noiva, terminando nos brindes da praxe, marcaram para sempre este evento.

A 2ª oradora descreveu o dia do seu quarto aniversário, cujo o presente dos pais a dislumbraram: um grande mealheiro em forma de palhaço, em plástico de côr amarela, nariz e língua vermelhos.
Quando se carregava num botão, a língua saía da boca. Colocava-se uma moeda e ele engolia-a.
Era tradição da família pô-lo atrás da porta, para que os familiares dessem dinheiro que ia acumulando, servindo o depósito para o futuro dos mais pequenos.
O entusiasmo por esse brinquedo fez com que a contínua brincadeira acabasse nesse próprio dia de o estragar. Com medo que ralhassem com ela, escondeu-o debaixo da cama, negando saber onde se encontrava. Mas depressa o pai o descobriu e aplicou-lhe um castigo.
Até aos dias de hoje, sempre que faz algo que não deve, lembra-se do palhaço.


O 3º orador expôs uma máquina fotográfica Kodak que o pai comprara em 1947. Um “caixote” preto simples de manusear.

As fotos a preto e branco, ainda hoje com bom contraste, permanecem em albuns que ao folheá-los, lembram muitos dos que já partiram, entre eles, seus pais: ”pessoas mais amadas e ausentes para sempre”.


A 4ª oradora apresentou duas formas em metal prateado, com longas pegas em forma de hastes, uma delas já deformada pelos anos.
Foram feitas por um primo do pai e serviam e servem para fazer filhós no Natal que ofereciam à família. A maior, tinha o desenho de uma estrela e a mais pequena de uma flor que servia para aproveitar a massa que sobrava na taça.
Aos 30 anos ficou com as formas, incumbida de continuar este hábito.
Agora, já a filha do meio tem formas parecidas e com a receita confecciona-as também.
Contou-nos que sua neta de 17 anos pediu que lhe escrevesse um livro de receitas tradicionais para poder recriar refeições temáticas
Para terminar a exposição, presenteou-nos com essas deliciosas filhós que nos serviu numa grande caixa de papel.
Fez-se um pequeno intervalo para as saborear.

O 5º orador mostrou-nos uma pedra ou seixo, pintado à mão na escola, por sua filha quando tinha sete anos de idade. Já lá vão cerca de quarenta anos. A imagem da sua alegria e ternura em oferecer ao seu pai este trabalho, marcarão para sempre este elo de amor entre os dois.
É um pisa ou pesa-papéis que está sempre presente na mesa de trabalho, sentindo a sua presença física que tanta falta lhe faz.

A 6ª oradora tirou de um saco muito velhinho, um binóculo bicentenário de ópera para teatro, com pega extensível, retráctil dobrável, de madrepérola e metal dourado. Foi legado por morte de sua tia- bisavó por afinidade, uma senhora castelhana.
Adorava crianças. Proporcionou-lhe idas ao Jardim Zoológico, onde montou num elefante e lanchou bolos e laranjina C. Coisa impensável com seus pais.
No Natal, em casa do seu avô e com o lenço dele, branco e maior do que o dela, fazia dobragens com nós, de onde saía uma velha que simulava falar, um coelhinho que saltava de suas mãos e um palhaço que baixava a cabeça logo que se puxavam as pernas. Uma alegria na sua meninice.
O binóculo, pousado numa prateleira expositora de sua casa, representa permanentemente a figura desta tia tão amada.

A 7ª oradora mostrou-nos uma espécie de relógio de bolso para homens, bastante maior e em metal prateado, fabricado há cerca de 100 anos na Alemanha. Era um “contador de vidas”. Carregava-se num botão que ia marcando no visor unidade por unidade. Hoje em dia, um instrumento obsoleto.
Pertenceu a seu irmão mais velho, quando ambos trabalhavam numa agência de viagens. Contava os passageiros que chegavam para serem transportados pela agência: partidas ou chegadas de combóio, autocarros, barcos ou outro meio de transporte.
Depois da 1ª Guerra mundial, serviu para contar os turistas alemães que montados num burro, iam descobrir a Serra da Arrábida e Azeitão.
Nos anos sessenta, os portugueses mais carenciados, partiam de Santa Apolónia, com um magro farnel para dois dias, deixando para trás, na maioria dos casos, os mais velhos, as mulheres e os filhos. Partiam para alguns países da Europa, com seus trajes escuros e pobres, à procura de melhor vida.
Lá estava o contador de vidas a fazer o seu papel.
Em 1965, no Cais de Alcântara, chegou um cruzeiro polaco de onde desembarcaram turistas para fazerem um passeio de autocarro a Alcobaça e Batalha. O regime de ditadura e ateu, não permitia trazer dinheiro português. Como os passageiros eram católicos, pediram em segredo para trocar o passeio para Fátima. Era mais caro, e às 7,30 h da manhã embaraçou a nossa oradora, como agente de viagens. Mesmo assim, resolveu telefonar ao dono da agência, relatando o sucedido. Prontamente, e com “um belo gesto de eucumenismo”, concordou com o desvio do percurso a seu encargo, e desta forma os agentes da polícia política do cruzeiro, nada souberam. Foi uma alegria para todos: de um lado e do outro.
Muito mais histórias poderia relatar este contador de vidas.

Assistiram a esta Tertúlia, outros alunos da universidade, três dos quais participaram informalmente. 


Por fim, festejou-se a data de casamento já muito longa e feliz, do nosso professor de fotografia, sr. Lourenço que teve direito a brinde com vinho do Porto, na companhia da sua mulher.



Foi uma actividade conseguida e uma tarde bem passada.

Maria João Menezes

30/03/2023

X Encontro de Poesia das UTIS do Oeste em Rio Maior


A AUTITV com Gedeão e com um sonho de paz, participou no evento do passado dia 29/03/2023 com os poemas: “ASAS” de Manuela Braga; “Aos 70 anos Hino à Paz” de Odete Bento; “Querida Paz” de Teresa Sarzedas; “A Paz sem vencidos e sem vencedores” de Sophia Mello Breyner Anderson por Ermelinda Lopes e “Se eu pudesse” de Gabriel de Sousa, por Isabel Faria.

Participantes e assistentes deliciaram-se com as magnificas interpretações, premiadas com salvas de palmas.

Depois de uma tarde bem passada cerca das 19 horas fomos presenteados com uma jantar nas tasquinhas de Rio Maior e com a actuação de uma Tuna juvenil. Regressamos a casa, orgulhosas e felizes, cientes de que POESIA é algo sem limites, é beleza e comunicação e atitude artística.

Estamos todos de Parabéns.

Helena Carronda

29/03/2023

Assembleia Geral Ordinária - 27.03.2023


Realizou-se no dia 27 de março de 2023, pelas 16 horas, nas instalações da AUTITV, a Assembleia Geral Ordinária, para apresentação e votação do relatório e Contas do ano de 2022 e Parecer do Conselho Fiscal. 


Estiveram presentes na Assembleia 38 associados.

Tertúlia_Alguns aspetos da Sociedade Torriense no Antigo Regime_24.03.2023

Ao amigo Flores

Foi com muito agrado e boas lembranças que ouvimos falar de Torres Vedras antiga. Que agradável foi essa tarde! e havia muito mais, que ficou por dizer, porque vendo bem, esta hoje cidade (1979) é inesgotável em termos de passado.

Terra de rainha desde D. Beatriz (1277) !

Apareça mais vezes Dr. Flores, é sempre um prazer ouvi-lo.

Maria Edite Robalo

Visita ao Centro Cultural de Belém Exposição – Coleção Berardo - 23 março 2023

Os alunos das disciplinas de Pintura a Óleo e Pintura a Acrílico da Universidade Sénior de Torres Vedras – AUTITV, fizeram mais uma visita organizada pela sua Secretaria, desta vez ao CCB – Coleção Berardo, dedicada à Arte Moderna (período do fim do século XIX e início do século XX) – e Arte Contemporânea (século XX, após 2ª Guerra Mundial e século XXI).

De forma simplificada, a Arte Moderna ainda apresenta uma preocupação com a técnica, traços e formas, mesmo que de maneira subjetiva, enquanto a Arte Contemporânea possui a caraterística de que absolutamente tudo se pode tornar Arte.

Para maior compreensão, anexamos uma explicação do Primeiro Modernismo às Novas Vanguardas do século XX.

Surgiram a seguir as várias tendências representadas nesta exposição, desde o Construtivismo, Dadaísmo, etc... até à “Pop Art”, Descolagismo e Noveau Réalisme.

Durante as três horas da visita fomos acompanhados por um Guia daquele organismo, sempre incansável nas respostas às questões colocadas.

Agradecemos à AUTITV a realização desta visita, esperamos a presença das colegas inscritas nas disciplinas de Artes e a continuação e a continuação de futuros eventos, com a brevidade possível.

Julieta Abano

Na Rota de Ricardo Reis - Visita de estudo a Lisboa

Para encerrar a Comemoração do Centenário de Saramago, após longo período de leitura, análise e comentário de vários romances do escritor, fomos a Lisboa vivenciar momentos de "O ano da morte de Ricardo Reis". 

A tarde cultural teve início na Casa dos Bicos, onde a guia indigitada nos conduziu ao auditório; recebidos e informados sobre aspetos biográficos e literários, referentes ao Nobel da Literatura em 1998. 

Visitámos o piso do memorial do escritor, com destaque para as suas agendas pessoais que denotam o caráter organizativo e sistematizado do visado. Noutro piso, a livraria para venda de obras de diversos autores portugueses e de demais material publicitário a Saramago.

Depois desta fase introdutória, demos início ao percurso de Ricardo Reis pela "cinzenta e chuvosa" Lisboa, assim caracterizada por ele, enquanto residente por nove meses (tempo da gestação e que permite ao fantasma de Fernando Pessoa acompanhá-lo, vagueando pela capital).

A guia foi fazendo as pausas convenientes à abordagem da obra, assim: 

_No Martinho da Arcada foi relembrada a recusa à entrada no café porque "seria imprudente, as paredes têm olhos e boa memória" (diz F. Pessoa a R. Reis).

_Na Pr. do Município relembrámos o tão falado Hotel Bragança, escolhido pela vista privilegiada sobre o Tejo e hoje, apenas, fachada de atração turística.

_Uma pequena pausa, junto à estátua de Eça de Queiroz, cuja "nudez literária" escandalizou o puritanismo da época.

_Na Pr. Luís de Camões alusão à "espécie de D`Artagnan premiado com uma coroa de louros..." descrição feita ao poeta, a passar pelo crivo crítico de Saramago.

De passagem, demos uma olhadela à sede da PVDE (polícia de vigilância e defesa do estado) e atravessámos o Largo de S. Carlos, onde R. Reis, com o pretexto de reencontrar Marcenda, assistiu a uma representação teatral. 

_Em Santa Catarina "o meu tempo chegou ao fim..." (diz F. Pessoa) e com a aceitação "então vamos" de R. Reis, apenas o Adamastor assistiu à partida de ambos "AQUI ONDE O MAR SE ACABOU E A TERRA ESPERA" - frase final do romance "O Ano da Morte de Ricardo Reis".

Pelo avançado da hora, parámos num café da rua Augusta para retemperar forças e para mastigar um pastel de nata, à pressa e sem sabor especial.

Gratidão e Amizade, Odete Bento

27/03/2023

22/03/2023

Faleceu Maria Odete dos Santos Val-Flores Sousa França

Faleceu dia 21 de março de 2023, Maria Odete dos Santos Val-Flores Sousa França, sócia da AUTITV. 

A Direcção manifesta sentidas condolências à família.

20/03/2023

Workshop sobre Apicultura

“ Se as abelhas desaparecessem da face da Terra, o homem teria apenas quatro anos de vida”


Dia 17 de março, às 15h, foi feita uma apresentação sobre apicultura, sessão que durou quase 2h, e mais duraria, tal o interesse e curiosidade dos presentes sobre esse fascinante, tão completo e complexo, mundo das abelhas. O orador, o nosso colega António Ribeiro, demonstrou de forma viva e bem documentada, a importância desta espécie na manutenção dos ecossistemas. Se é questionável que a frase supra-citada seja atribuída a Albert Einstein, é, sem qualquer reserva, inquestionável o significado do seu conteúdo, e a inestimável importância deste supraorganismo. Basta dizer, por exemplo, que se a polinização feita por insectos, pode rondar os 85%, (número que pode variar dependendo das regiões do planeta, das espécies vegetais, do clima e dos próprios insectos existentes), 80% é efectuada pelas abelhas.
São consideradas um supraorganismo, porque vivem em colónias, em ambiente selvagem ou condicionadas pelo homem, povoando cortiços ou colmeias. Cada colónia pode ter entre 20 mil a 80 mil indivíduos. Nesta estrutura social, existem três tipos morfológicos, a rainha, a obreira e o zangão. Cada um destes elementos desempenha uma função bem definida. É, teoricamente, uma sociedade imperecível, uma comunidade de insectos geneticamente idênticos, e que mantêm a coesão através de feromonas produzidas pela rainha. A rainha é única, e comanda a vida na colmeia em função das informações das obreiras, tendo como principal função a gestão da natalidade (postura de ovos) e da escolha do género, (tipo morfológico), mantendo o nível adequado de população na colmeia em função da quantidade de alimento no exterior. As obreiras monopolizam todas as outras tarefas a desenvolver na colónia; produção de geleia real, preservação dos ovos, alimentação, defesa do enxame,(só elas possuem ferrão), construção e limpeza dos alvéolos, recolha de pólen e de própolis e recolha e recepção de néctar para a produção de mel e produção de cera, tudo muito bem coordenado e executado até ao mais ínfimo pormenor.

O mais antigo antepassado da abelha, preservado em âmbar, tem 100 milhões de anos e foi descoberto em Burma, no sudoeste asiático. O insecto, já classificado do género Apis, geneticamente idêntico à nossa abelha, data de há 30 milhões de anos.

Sabe-se que o homem pré-histórico era já coletor de mel, como podemos constatar pelas gravuras rupestres, datadas de há 10 000 anos, deixadas em grutas, nomeadamente, na designada Cueva de la Araña, em Valência, Espanha.

Mas a sua recolha de forma racional surge no antigo Egipto nas regiões férteis do Nilo há aproximadamente 4.400anos. É esta civilização que inicia a apicultura e dá utilidade a praticamente todos os produtos da colmeia: na medicina utilizavam a cera, o mel e a apitoxina (veneno da abelha); na mumificação, a cera e o própolis. O mel é o produto produzido em maior quantidade pelas abelhas e era utilizado na alimentação e na cosmética; a cera, também, na construção naval e na impermeabilização dos vasos cerâmicos.

Em 1852 é registada a patente de uma colmeia com quadros amovíveis, como se utiliza hoje em dia.

Curiosidade : São precisos 6 a 7kg de néctar para produzir 1Kg de mel; 7Kg de mel para produzir 1kg de cera. E esta, hein?

As obreiras, apesar do seu curto tempo de vida, são autênticas máquinas dotadas de glândulas, que produzem enzimas contidas na saliva, que transformam o néctar em mel. Recolhem pólen e própolis nas patas (corbículas). O pólen com alto valor nutricional; e o própolis, uma matéria resinosa, com alta aptidão medicinal, que protege contra bactérias e fungos, e assegura a assepsia da colmeia, é um produto procurado pela indústria farmacêutica. O ferrão contém um veneno chamado de Apitoxina, que usa para afastar os predadores; ao sermos picados, o saco de veneno continua a pulsar, durante algum tempo, injectando veneno através do ferrão cravado na pele. Existe muita pesquisa e investigação sobre os seus, eventuais, benefícios para a saúde, nomeadamente no combate às células cancerígenas. A apiterapia (tratamento de aplicação directa do veneno de abelha) é uma prática que pode ser utilizada na dessensibilização à picada, mas que requer elevados padrões de segurança.

Karl von Frisch, centrou a sua investigação na percepção sensorial das abelhas, tendo ganho o prémio Nobel da Medicina-Fisiologia em 1973, por ter descoberto, e demonstrado, que as abelhas conseguem ver a cores, e que comunicam entre si através da dança.

As danças, em forma de oito e em círculo,( se a fonte de alimentação se encontra a mais ou a menos de 100 metros) que as abelhas executam quando chegam à colmeia com néctar, dão informação sobre a direcção, a distância e a qualidade do alimento, tendo como referência o Sol. Mesmo nos dias completamente nublados conseguem orientar-se na perfeição. Isto acontece porque as abelhas têm a capacidade de visualizar a luz ultravioleta e polarizada do Sol, e estabelecer com este, considerando a colmeia como vértice, e a fonte de alimento um ângulo de 90º.


Perante tudo isto, ainda se sentem ameaçados e com vontade de matar abelhas? Saibam que elas morrem imediatamente após espetarem o ferrão! Este é um prolongamento do abdómen que se rompe ao largarem a vítima. Não as ameacemos nós!


Manuela Braga
(orientada por António Ribeiro)

Palestra: Um dia na vila medieval de Torres Vedras – Sinais do quotidiano - 16/03/2023

Para esta viagem em busca da Idade Média propusemos uma breve abordagem ao conceito de Tempo, usando a definição do historiador Jacques Le Goff. Nesse sentido relembrámos o tempo dos mosteiros e igrejas, regulamentando o trabalho e as orações dos seus membros, pelas horas canónicas. Também referimos o tempo dos camponeses, no seu ritmo sazonal, bem como os tempos urbanos – dos mercadores, mensurável, que custava dinheiro e exigia novas disponibilidades técnicas. E assinalámos a passagem do tempo rural ao espaço urbano na realidade transmitida pelos sinos e pela novidade dos relógios mecânicos.

O TEMPO e o ESPAÇO – TORRES VEDRAS em 1381
Hipotética imagem da vila medieval de Torres Vedras – sugestão de José Pedro Sobreiro

Propusemos, então uma visita à vila medieval de Torres Vedras em 1381. Socorremo-nos de uma fonte escrita – o Liuro dos dous soldos dos bojs – existente no ANTT, Colegiada de Santa Maria do Castelo de Torres Vedras, maço 27, doc. 5, que nos permitiu referir alguns dos espaços sugeridos pela toponímia. Fomos lembrando, na toponímia actual, as memórias desse período medievo através das profissões dos oleiros na rua da Olaria, dos hortelãos nas almuinhas de Carcavelos, dos curtidores e surradores nos Pelames.

Revisitámos, no coração da urbe, o bairro da Judiaria, com as suas singularidades, e a presença de, pelo menos, vinte e cinco famílias judaicas com o seu contributo diário para a economia da vila, através de profissões como sapateiros, alfaiates, ferreiros, ourives, prestamistas, entre outras. Depois da sua expulsão, em 1497, o espaço seria transformado, adoptando novas designações e conhecendo a presença de moradores cristãos: a rua dos Celeiros de Santa Maria sobrepor-se-ia à antiga rua da Judiaria, por exemplo.

Na praça do Município, com o pelourinho, os sons, as cores dos víveres, trazidos da zona rural, encheriam de vida o dia dos habitantes. Compras e vendas, pregões, discussões, tornariam animado um local bastante concorrido, e onde decerto as mulheres estariam em maioria. Não só como regateiras, mas como donas de sua casa, responsáveis pela alimentação quotidiana. Evocámos então, de forma sucinta, o papel da mulher na época medieval: sempre activa embora nem sempre reconhecida pela sua importância para o contexto sócio-económico de então.


Continuámos o nosso périplo pela vila torriense, quando o dia estava já a caminho do fim.
Na rua da Corredoura, pela porta do mesmo nome, regressavam a casa os camponeses que pela manhã se tinham deslocado às parcelas de terra onde trabalhavam, recolhiam os mercadores que iriam pernoitar na vila, e os miúdos brincavam nas imediações do Chafariz dos Canos, onde as mulheres recolhiam água e tagarelavam sem cessar. Os pedintes ainda ali esperavam alguma esmola dos passantes.

Noite caída, as famílias juntavam-se em volta da lareira para a refeição final. Fechavam-se as portadas de madeira, os tabuleiros dos artesãos já se haviam recolhido até ao dia seguinte. Guardava-se o braseiro com cuidado para evitar fogos. Era preciso retemperar forças pelo sono. Nas quatro matrizes da vila os sinos continuariam a assinalar as horas canónicas, reguladoras da vida dos membros das colegiadas. A segurança era assegurada pelos homens do alcaide, vigiando a vila e evitando que, na rua da mancebia, ainda se demorassem os retardatários, alguns já demasiado avinhados. A vila adormecia…


No final, houve ainda oportunidade, em frutuoso diálogo, com alguns dos presentes, de analisar a importância da preservação da toponímia para a memória colectiva torriense.

Manuela Catarino

Ação de Sensibilização sobre Higiene Oral



Este trabalho teve o intuito de sensibilizar as pessoas mais idosas, nomeadamente, para a importância da higiene oral, foi explicado um bocado em relação aos dentes, a sua função, o importante cuidado a ter com próteses e das doenças que foram referenciadas ao longo da ação.

Em relação à ação em si teve um balanço bastante positivo, gostei muito, achei os alunos bastante interessados em relação ao tema, foi esclarecido muitas dúvidas, eu respondi de acordo com a minha formação!

Tenho muita pena de a doutora não ter ido, mas estava muito em baixo e não pode estar presente.


Espero que tenham gostado igualmente e obrigada!

Francisca Ferreira

Visita de estudo à Universidade Sénior de Torres Vedras (AUTITV)

   No dia 13 de março de 2023 a turma do 12º ano do Curso Profissional de Auxiliar de Saúde da Escola Secundária Henriques Nogueira foi conhecer a Universidade Sénior de Torres Vedras e perceber mais sobre o Envelhecimento Ativo. A Organização Mundial de Saúde define Envelhecimento Ativo como o processo de otimização das oportunidades para a saúde, participação e segurança, para melhorar a qualidade de vida das pessoas à medida que envelhecem.

   A lição que aprendemos durante a visita foi “Nunca é tarde para aprender!” porque tivemos a oportunidade de interagir com os seniores durante as aulas de Matemática e Informática, que estavam a decorrer durante a visita às instalações da Universidade. Bem hajam pelo seu dinamismo, entusiasmo, profissionalismo e sobretudo pelo carinho com que nos receberam. Aqui aproveitamos para agradecer, especialmente à Dra. Conceição Calhamar, pelos bolos. Estava tudo uma delícia, adorámos!


  Afinal, ser jovem não é só ter poucos anos de vida. Ser jovem é uma atitude, é uma maneira de estar, é uma escolha, é aceitar com convicção aquilo que somos e que podemos fazer melhor, não ter medo de errar e ser tolerante com os outros e sobretudo connosco próprios. Já é tempo de a sociedade abandonar as suas ideias preconcebidas relativamente à população sénior. Eles são cada vez mais e ainda têm muito para dar. Eles são a nossa família, eles são fonte de sabedoria e conhecimento e cabe a todos a responsabilidade de encontrar soluções onde juniores e seniores sejam os dois lados de uma só moeda.

Prof. Isabel Esteves (ESHN)

TERTÚLIA: LIVROS QUE NOS MARCARAM NA INFÂNCIA

Numa iniciativa da AUTITV, com a intenção de dinamizar algumas tertúlias sobre temas diversos, realizou-se uma sessão no passado dia 10 de Março, dinamizada pelo Professor Joaquim Moedas Duarte. O tema era “Livros que nos marcaram na infância”.

Foi bastante animada, pelas intervenções dos diversos participantes, que falaram sobre os livros de que gostaram, como foi o meu caso, que gostei muito de ler os livros de Enid Blyton, dos “Cinco” e dos “Sete”.

O Professor falou do livro Moby Dick, de que leu, na infância, uma versão adaptada, que o fascinou. Mais tarde, leu uma tradução completa do original, um clássico da literatura norte-americana, publicado em meados do séc. XIX e que, na altura, não teve bom acolhimento pela crítica e pelo público.

O livro relata a história de Ahab, capitão de navios baleeiros, que persegue a baleia branca (Moby Dick), para se vingar de um antigo encontro com ela, noutra pescaria, e que lhe custara a perda de uma perna. O romance contém um nível profundo de sentidos, uma análise da luta do Homem pela sobrevivência contra as forças da Natureza.

Também li o livro, em tempos, assim como vi o filme, que achei bastante trágico e sangrento.

Ao Professor Moedas Duarte agradecemos o seu empenho e dedicação.

Maria Otília Ramos

Palácio Nacional da Ajuda e o Museu do Tesouro

Integrado no plano da disciplina de História de Portugal da AUTITV, ministrada pela Sra. Professora Rita Sarreira, deslocámo-nos ao palácio Nacional da Ajuda, para, “de uma cajadada matarmos dois coelhos”, ou seja, visitarmos o Palácio Nacional da Ajuda e o Museu do Tesouro Real, aí instalado.

Aí chegados, a turma foi repartida em dois grupos, seguindo um a visitar o Palácio propriamente dito, e ou outro encaminhou-se para área reconstruída do Palácio, onde se guarda o Tesouro Real.


PALÁCIO NACIONAL DA AJUDA

O Palácio Nacional da Ajuda, como o próprio nome indica, está situado na Ajuda, em Lisboa, e foi a última morada dos monarcas portugueses, até à implantação da Républica, em 1910. Iniciou-se a sua construção em 1795, num local onde antes existira a “Real Barraca”, morada temporária da família real, construída depois do terramoto de 1755, que mandara edificar por receio de novas derrocadas e que duraria até 1794 altura em que ardeu. Note-se que foi nesta construção que se conservaram, durante alguns anos, a documentação que se “salvou” e que se conservava na torre de menagem do Castelo de S. Jorge, a “Torre do Tombo”.


O projeto inicial sofreu várias alterações e adaptações, sobretudo ao nível da sua dimensão, que previa uma área tês vezes superior à existente, e também quanto ao seu estilo, impondo-se uma versão final neoclássica. O edifício foi habitado, com caráter permanente, pela família real durante os séculos XVIII e XIX, com algumas interrupções, ora motivadas pelas invasões francesas e a consequente “fuga” da família real para o Brasil, ora pelas guerras civis, consequência das lutas liberais. D. Maria Pia de Saboia, a partir de 1862, rejuvenesce o palácio com uma profunda reforma, não só nível da decoração, mas também na melhoria das condições de conforto, higiene e habitabilidade. Aqui nasceriam os últimos reis da monarquia portuguesa, D. Carlos e D. Manuel, o primeiro assassinado a 1 de fevereiro de 1808 e o segundo exilado na sequência da implantação da República a 5 de outubro de 1910, tendo sido encerrado, até que em 1968 reabriu ao visitante como Palácio Nacional.

Magnificas são as salas, que como hoje as conhecemos muito devem ao gosto de D. Maria Pia de Saboia, quase sempre muito exuberante e caro, ao engenho e arte do seu arquiteto, Possidónio da Silva. A maior parte das salas, são forradas com tecidos de seda, mantendo-se muito do mobiliário da época e a disposição dos espaços da vida quotidiana de uma família desta natureza, mas também, como a sua condição impunha, dada a receções, festas, bailes e banquetes.

Para não nos alongarmos num texto descritivo, e porventura, maçador sobre o Palácio Nacional da Ajuda, optámos por deixar algumas imagens, que pela sua beleza e opulência “valem por mais do que mil palavras”.


O MUSEU DO TESOURO REAL

Na noite de 23 de setembro de 1974, pelas 22 horas eclodiu um incêndio, devastador, na ala poente do Palácio Nacional da Ajuda. Destruída, esta parte do palácio na sua quase totalidade, assim se manteve até à sua reconstrução e inauguração que ocorreu a 7 de junho de 2021. Aqui se instalou o novo Museu do Tesouro Real.


Este será, certamente, um edifício com história e que ficará para a história. Da sua traça arquitetural e segurança dá conta uma nota divulgada, na altura da inauguração do edifício, pelos promotores da reconstrução do edifício (Direção Geral do Património Cultural (DCPC), a Câmara Municipal de Lisboa (CML) e a Associação de Turismo de Lisboa (ATL) “Com um sistema de segurança do mais alto nível, o núcleo central deste edifício, que se apresenta com uma estrutura em vidro atravessada por lâminas verticais, irá ter uma caixa-forte com 40 metros de comprimento, 10 de altura e 10 de largura, três pisos e duas portas em aço, com cinco toneladas e 40 centímetros de espessura cada. É aqui que está a ser instalado o futuro Museu do Tesouro Real, onde poderá ser visitada a exposição permanente de um acervo de valor histórico, artístico e cultural em coleções de ourivesaria e joias da antiga Casa Real, cujo restauro das peças está a cargo dos técnicos do Laboratório José Figueiredo”.


O Museu do Tesouro Real está repartido por onze núcleos, espelhando a nossa História, em particular desde o séc. XVI ao séc. XX, e através da sua diáspora pelos cinco continentes. Refira-se que este acervo museológico está truncado de seis peças (um diamante de 6 quilates, um catão de bengala de ouro, um anel com um diamante de 37 quilates, uma gargantilha em ouro e prata com brilhantes, e dois alfinetes em forma de trevo com diamantes e brilhantes), que foram roubadas em Haia (Países Baixos), em 2002, juntamente como outras peças de diversos países.

1 - Ouro e diamantes do Brasil

Os Portugueses, desde a sua chegada ao Brasil em 1500, procuraram ouro e pedras preciosas, mas, só passados quase dois séculos, no final de 1600, é que descobriram as possantes jazidas de ouro na região posteriormente apelidada de Minas Gerais.




2 – Moedas e medalhas da Coroa

A cunhagem de moeda foi, ao longo dos anos um símbolo de poder real, que muitas vezes se materializava na quantidade de ouro que as moedas possuíam, sendo o inverso verdadeiro. Ou seja, quanto mais ouro tinham as moedas mais poderoso era o rei.





3 – Jóias

O acervo de joalharia do Palácio da Ajuda é composto por peças de diferentes proveniências. O grupo de "Joias da Coroa" era propriedade do Estado, estando o seu usufruto reservado aos soberanos em funções. Criado em 1827, na sequência do processo de partilhas de D. João VI, esteve ao serviço dos sucessivos monarcas até à implantação da República, em 1910. A coleção do Palácio da Ajuda é composta, igualmente, por dezenas de objetos de joalharia que foram propriedade privada de soberanos e membros da família real portuguesa entre os séculos XVII e XX.



4- Ordens Honoríficas

Criadas na Idade Média, foram perdendo a sua função inicial e foram adquirindo um carácter honorífico a partir do final do Antigo Regime, acabando por transformar-se em ordens meramente premiais. Desde então, todas ganharam destaque com o desenvolvimento das relações diplomáticas internacionais e consolidaram-se como uma ferramenta imprescindível para reconhecer méritos e serviços a cidadãos nacionais e estrangeiros.



5 – Insígnias Régias

O presente núcleo integra as insígnias de poder dos reis de Portugal. Tais objetos desempenhavam um papel crucial na cerimónia de advento de cada novo monarca, que em Portugal era designada por aclamação ou levantamento, uma vez que os reis não eram coroados nem sagrados ou ungidos. As insígnias portuguesas adequavam-se ao que era usual nas demais monarquias europeias, com um conjunto central de objetos simbólicos como coroa, cetro, manto, estoque, completado por outros objetos ligados diretamente a determinadas partes do ritual, como estandarte, trono, crucifixo, almofada, escrivaninha.




6 – Prata de Aparato da Coroa

Objetos de uso civil em prata dourada e ricamente trabalhada, constituíam verdadeiros tesouros, materiais e artísticos. Serviam, por isso, à representação e ao aparato. Do Tesouro recomposto após o Terramoto de 1755, destaca-se o excecional conjunto de 23 obras reservadas para os maiores atos públicos da Coroa, como os Batismos reais, a Aclamação, ou a cerimónia régia do Lava-pés aos Pobres, de Quinta Feira Santa.



7 – Coleções Particulares

Figura central do colecionismo de arte em Portugal no século XIX, D. Fernando II (1816-1885) teve na ourivesaria uma das suas áreas de eleição, interesse partilhado com o filho, D. Luís I (1838-1889). Através de aquisições efetuadas em Portugal e no estrangeiro, mas também de ofertas, reuniram importantes peças que desde cedo atraíram a atenção de estudiosos, tendo sido cedidas para exposições.



8 – Ofertas Diplomáticas

A diplomacia teve ao longo dos tempos um papel determinante nas relações entre Estados, bem como entre Entidades. À semelhança dos tratados e acordos, os presentes diplomáticos constituem-se como parte e expressão destas relações, com a respetiva carga de significados e simbolismo. Marcantes para a história da Diplomacia portuguesa foram as relações de D. João V com a Santa Sé que resultaram, nomeadamente, na elevação da Capela Real à dignidade de Igreja Patriarcal em 1716.



9 – Capela Real

As capelas reais foram, ao longo dos séculos, cenário de grandes cerimónias nas quais se exaltavam a devoção católica e o poder real, assinalando as datas do calendário litúrgico, bem como as comemorações associadas às pessoas reais, fazendo uso de preciosas alfaias litúrgicas. Para o espetáculo da Corte concorriam igualmente os músicos da Câmara Real e toda uma cenografia assegurada por vários artistas, que redesenhavam os espaços com sumptuosas armações em seda e ouro onde reluziam, à luz das velas, as pedrarias e metais preciosos das alfaias.



10 – Mesa Real

Testemunho único dos mais sumptuosos serviços de mesa de representação do século XVIII, a baixela encomendada pelo rei D. José I ao ourives François-Thomas Germain, em junho de 1756, no rescaldo do Terramoto, conserva-se, quase na íntegra, no património nacional. Concebida para servir “à francesa” como era uso nas cortes europeias de então, deveria compor sobre o “palco” da mesa, planificados e simétricos, os sucessivos conjuntos de magníficas obras de ourivesaria nas quais eram apresentadas as múltiplas iguarias: as Cobertas.




11 – Viagens do Tesouro

O Tesouro estava junto do Rei, acompanhava-o na sua glória e nos atos solenes, mas também nas suas vicissitudes, as do Reino e da sua história. Reserva de singulares objetos de Estado, joias, têxteis, sumptuosas baixelas foi, também, um recurso de riqueza e matéria preciosa. Os cofres do Tesouro embarcaram, por isso, numa inédita e arriscada travessia do oceano, que levou a Família Real e a Corte rumo ao Brasil, quando, em 1807, se deram as Invasões francesas.



A terminar não poderei deixar de recomendar, vivamente, mas com disponibilidade de tempo, uma visita a este espetacular espólio museológico que nos foi legado pelos nossos monarcas antepassados. Digo disponibilidade de tempo porque, para além da grande quantidade e diversidade de peças, as mesmas possuem legendas com muita informação explicativa, talvez demasiada, em meu entender. Por outro lado, o corpo da letra e a sua iluminação não facilitam a sua leitura. Independentemente destes pormenores vale a pena uma deslocação ao Palácio Nacional da Ajuda. E já agora, no final sempre pode ir comer um pastel de Belém (basta descer a Calçada da Ajuda).

Zacarias Rito/março de 2023


Fontes de apoio:

- Desdobrável elaborado previamente para a visita

- Texto e imagens do Museu do Tesouro - https://www.tesouroreal.pt/paginas/c5e24a29 e do autor deste texto