“ Se as abelhas desaparecessem da face da Terra, o homem teria apenas quatro anos de vida”
Dia 17 de março, às 15h, foi feita uma apresentação sobre apicultura, sessão que durou quase 2h, e mais duraria, tal o interesse e curiosidade dos presentes sobre esse fascinante, tão completo e complexo, mundo das abelhas. O orador, o nosso colega António Ribeiro, demonstrou de forma viva e bem documentada, a importância desta espécie na manutenção dos ecossistemas. Se é questionável que a frase supra-citada seja atribuída a Albert Einstein, é, sem qualquer reserva, inquestionável o significado do seu conteúdo, e a inestimável importância deste supraorganismo. Basta dizer, por exemplo, que se a polinização feita por insectos, pode rondar os 85%, (número que pode variar dependendo das regiões do planeta, das espécies vegetais, do clima e dos próprios insectos existentes), 80% é efectuada pelas abelhas.
São consideradas um supraorganismo, porque vivem em colónias, em ambiente selvagem ou condicionadas pelo homem, povoando cortiços ou colmeias. Cada colónia pode ter entre 20 mil a 80 mil indivíduos. Nesta estrutura social, existem três tipos morfológicos, a rainha, a obreira e o zangão. Cada um destes elementos desempenha uma função bem definida. É, teoricamente, uma sociedade imperecível, uma comunidade de insectos geneticamente idênticos, e que mantêm a coesão através de feromonas produzidas pela rainha. A rainha é única, e comanda a vida na colmeia em função das informações das obreiras, tendo como principal função a gestão da natalidade (postura de ovos) e da escolha do género, (tipo morfológico), mantendo o nível adequado de população na colmeia em função da quantidade de alimento no exterior. As obreiras monopolizam todas as outras tarefas a desenvolver na colónia; produção de geleia real, preservação dos ovos, alimentação, defesa do enxame,(só elas possuem ferrão), construção e limpeza dos alvéolos, recolha de pólen e de própolis e recolha e recepção de néctar para a produção de mel e produção de cera, tudo muito bem coordenado e executado até ao mais ínfimo pormenor.
O mais antigo antepassado da abelha, preservado em âmbar, tem 100 milhões de anos e foi descoberto em Burma, no sudoeste asiático. O insecto, já classificado do género Apis, geneticamente idêntico à nossa abelha, data de há 30 milhões de anos.
Sabe-se que o homem pré-histórico era já coletor de mel, como podemos constatar pelas gravuras rupestres, datadas de há 10 000 anos, deixadas em grutas, nomeadamente, na designada Cueva de la Araña, em Valência, Espanha.
Mas a sua recolha de forma racional surge no antigo Egipto nas regiões férteis do Nilo há aproximadamente 4.400anos. É esta civilização que inicia a apicultura e dá utilidade a praticamente todos os produtos da colmeia: na medicina utilizavam a cera, o mel e a apitoxina (veneno da abelha); na mumificação, a cera e o própolis. O mel é o produto produzido em maior quantidade pelas abelhas e era utilizado na alimentação e na cosmética; a cera, também, na construção naval e na impermeabilização dos vasos cerâmicos.
Em 1852 é registada a patente de uma colmeia com quadros amovíveis, como se utiliza hoje em dia.
Curiosidade : São precisos 6 a 7kg de néctar para produzir 1Kg de mel; 7Kg de mel para produzir 1kg de cera. E esta, hein?
As obreiras, apesar do seu curto tempo de vida, são autênticas máquinas dotadas de glândulas, que produzem enzimas contidas na saliva, que transformam o néctar em mel. Recolhem pólen e própolis nas patas (corbículas). O pólen com alto valor nutricional; e o própolis, uma matéria resinosa, com alta aptidão medicinal, que protege contra bactérias e fungos, e assegura a assepsia da colmeia, é um produto procurado pela indústria farmacêutica. O ferrão contém um veneno chamado de Apitoxina, que usa para afastar os predadores; ao sermos picados, o saco de veneno continua a pulsar, durante algum tempo, injectando veneno através do ferrão cravado na pele. Existe muita pesquisa e investigação sobre os seus, eventuais, benefícios para a saúde, nomeadamente no combate às células cancerígenas. A apiterapia (tratamento de aplicação directa do veneno de abelha) é uma prática que pode ser utilizada na dessensibilização à picada, mas que requer elevados padrões de segurança.
Karl von Frisch, centrou a sua investigação na percepção sensorial das abelhas, tendo ganho o prémio Nobel da Medicina-Fisiologia em 1973, por ter descoberto, e demonstrado, que as abelhas conseguem ver a cores, e que comunicam entre si através da dança.
As danças, em forma de oito e em círculo,( se a fonte de alimentação se encontra a mais ou a menos de 100 metros) que as abelhas executam quando chegam à colmeia com néctar, dão informação sobre a direcção, a distância e a qualidade do alimento, tendo como referência o Sol. Mesmo nos dias completamente nublados conseguem orientar-se na perfeição. Isto acontece porque as abelhas têm a capacidade de visualizar a luz ultravioleta e polarizada do Sol, e estabelecer com este, considerando a colmeia como vértice, e a fonte de alimento um ângulo de 90º.
Perante tudo isto, ainda se sentem ameaçados e com vontade de matar abelhas? Saibam que elas morrem imediatamente após espetarem o ferrão! Este é um prolongamento do abdómen que se rompe ao largarem a vítima. Não as ameacemos nós!
Manuela Braga
(orientada por António Ribeiro)
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